sexta-feira, 20 de abril de 2012

Esta vida boa que é tão cara, há outras mais baratas, não são é tão boas


Estou de volta ao Rio de Janeiro depois de 4 meses. Sinto-me triste em ver e sentir que o Carioca está a virar Europeu.

Onde está aquele calor humano que nos recebia de braços aberto, que nem o Cristo Redentor? Se bem que sempre com aquele ultimato "sai da frente que atrás vem gente", o Carioca sempre foi gentil, simpático, sorridente, caloroso, sensual e outras coisas mais, acabadas em "al".

Já em Novembro passado quando estive no Rio encontrei um Carioca arrogante, fechado, malcriado, intransigente, imbecil. Pensei... "o que o dinheiro faz às pessoas". Não é que tenham muito mais os Cariocas de quem falo, mas parece que por conta de quem está a fazer dinheiro com esta "bolha brasileira"  deixa espaço para os que nada têm poderem "se achar".

Por um lado ainda bem que o Brasil está a crescer, e que cada vez mais os Brasileiros, em geral, tenham  maior poder de compra. Por outro lado é triste ver que esse poder de compra afecta uma população e que faz vir à tona tudo o que é mau num ser humano. Era um defeito Europeu, passou a ser também um fenómeno brasileiro, e só não é sul americano, porque apesar de o Brasil ser o maior país da América do Sul, muitos  outros continuam iguais a eles próprios.

Porquê? Pergunto eu... Porque será que o poder de compra trás sempre apenso a arrogância, a antipatia, a má criação? Porque será? 

Um dia a minha mãe (filha de óptimas famílias, brasonada e tudo o mais) fez a seguinte observação, no dia em que eu relatava um incidente menos feliz que tive no Bar Moinho com 3 clientes: "não sirvas a quem já serviu, nem peças a quem já pediu". No mesmo instante em que ouvi esta frase achei-a pedante e snob, mas quanto mais velha sou, mais a acho adequada. Porque será que as pessoas que saem debaixo do último calhau do cromeleque mais perto aos domingos e feriados, se acham mais do que os outros? Porque trabalham mais? Como podem eles avaliar o trabalho dos outros? Porque de repente não são mais criadas e sim empregadas domésticas? Porque de repente não são mais "Almeidas" e sim Funcionários Municipais?

As diferenças de classes sempre irão existir, pois há uma decalage enorme entre alguém quem tem educação, boa formação de carácter, polimento, que foi passado como testemunho de geração para geração e alguém que de repente, muito de repente... do oito ao oitenta, passam a frequentar os mesmos meios. Posso eu mesma parecer pedante e snob quando faço esta afirmação, mas há algum comunista, socialista, social democrata, monarca, que contra-argumente?

Lembro-me, logo após o 25 de Abril, ter treze anos e ter passe social de primeira classe nos comboios da Linha do Estoril. As carruagens de segunda classe, na hora de ponta, pareciam sardinhas em lata e nós em primeira classe podíamos optar entre janela ou coxia.
Quando aboliram as classes na Linha do Estoril passou a primeira classe a parecer sardinhas em lata e viajar em segunda era um must.

A minha mãe tinha razão e agora é hora do favelado emergente virar gente. Há os espertos, que continuam simpáticos, afáveis, gentis e calorosos, pois na sua esperteza e inteligência, tiveram um avô, ou uma avó, que lhes souberam incutir valores e a sabedoria das coisas simples. Infelizmente não são a maioria em nenhum lugar do mundo, nem mesmo aqui. E o Rio está, aos poucos, a transformar-se na Alemanha da América do Sul. Haja alguém que os salve deles próprios, pois eu amo o Rio, sou Carioca de alma e de pé e sinto toda uma tristeza nova ao assistir a esta transformação.

Sárava Rio de Janeiro, Sárava Brasil.

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